verso, prosa e frases soltas, gritos na noite, pulso que pulsa, meia-verdade, meia-justiça e um grilo falante

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

- Estás satisfeito com o que escreveu? 

REPORTAGEM 

-Estás satisfeito com o que escreveu? 
-Não sou tão canalha. 
-Quem é Ernesto Sábato? 
-Meus livros têm sido uma tentativa de responder a essa pergunta. Eu não quero obrigar-te a lê-los, mas se quiseres conhecer a resposta terá de fazê-lo. 
-Pode adiantar-nos o que está escrevendo neste momento? 
-Uma novela. 
-Já tem o título? 
-Geralmente o conheço ao final, quando acabei de escrever o livro. No momento tenho dúvidas. Pode ser O anjo das Trevas. Mas talvez Abadon, o Exterminador. 
-Um pouco sombrios, não? 
-Sim. 
-Gostaria que me respondesse algumas perguntas: que pensas do boom latino-americano? Achas que o escritor deve estar comprometido? Que conselhos daria ao escritor que começa? Preferes dias de Sol ou nublados? Identificaste com teus personagens? Escreves tuas próprias experiências ou inventas? Que pensas de Borges? O artista deve ter uma liberdade total? São produtivo os congressos de escritores? Como definirias teu estilo? Que pensas da vanguarda? 
-Vejas, meu caro, deixemos de bobagens e de uma vez por todas digamos a verdade. Quero dizer, falemos de catedrais e de prostíbulos, de esperanças e de campos de concentração. Eu, pelo menos, não estou para piadas, 
porque vou morrer. 
Quem for imortal que se permita o luxo 
de continuar dizendo besteiras. 
Eu não: tenho os dias contados(mas que homem, meu 
caro jornalista, não os têm contado, diga-me, com a 
mão sobre o coração) 
e quero fazer um balanço 
para ver o que sobra de tudo isso 
(mandrágonas ou escritores) 
e se é certo que os deuses têm mais valor 
que os vermes 
que em seguida hão de engordar com meus despojos. 
Eu não sei, não sei nada(para que enganá-lo), 
não sou tão arrogante nem tão besta 
para proclamar a superioridade dos vermes. 
(Que isso fique para os ateus de bairro) 
Te confesso que o argumento me impressiona 
pois o caixão 
o carro fúnebre 
e esse grotescos implementos da morte 
são visíveis testemunhos de nossa precariedade, 
Mas quem sabe, quem sabe, senhor jornalista! 
Poderia ser que os deuses não condescendessem 
rebaixar-se tanto, 
não acedessem a baixa demagogia 
de se fazer grosseiramente compreensíveis, 
e nos esperassem com sinistros espetáculos, 
logo que o último discurso fosse pronunciado 
e nosso solitário corpo 
para sempre abandonado a si mesmo 
(mas, anote, abandonado de verdade, não com esses 
imperfeitos, anelantes e em definitivo inúteis abandonos 
que a vida nos proporciona) aguarde o ataque inumerável 
dos vermes. 
Falemos, pois, sem medo 
mas também sem pretensões 
singelamente 
com certo sentido de humor 
que dissimule o lógico patetismo do assunto. 
Falemos de tudo um pouco. 
Quero dizer: 
desses problemáticos deuses 
dos evidentes vermes 
dos cambiantes rostos dos homens. 
Não sei lá muita coisa destes curiosos problemas 
mas o que sei o sei de verdade 
pois são experiências minhas 
e não histórias lidas em livros 
e posso falar do amor ou do medo 
como um santo de seus êxtases 
ou um mágico de teatro( em um reunião caseira, 
entre gente de confiança) 
de seus truques. 
Não esperem outra coisa 
não me critique assim tão rápido, não sejam 
perversos, caramba. 
Nem mesquinhos. 
Lhes advirto: sejam mais modestos 
pois também vocês estão destinados(e patatipatatá) 
a alimentar os vermes antes mencionados. 
De modo que, com exceção dos loucos e dos invisíveis 
deuses (talvez inexistentes) 
todos os demais farão bem em escutar-me senão com 
respeito pelo menos com condescendência. 
-Muitos leitores se perguntam, senhor Sábato, como é possível que o senhor se tenha dedicado às ciências físico-matemáticas. 
-Pois nada mais fácil de explicar. Creio já ter-te contado que Fugi do movimento stalinista em 1935, em Bruxelas, sem dinheiro, sem documentos. Guillermo Etchebehere me deu alguma ajuda, ele era trotskista, e durante algum tempo pude dormir no sótão da École Normale Supérieure, rue d’Ulm. Me lembro como se fosse hoje. Uma casa grande, mas naquele tempo não havia calefação, eu entrava pela janela às dez da noite e me deitava ali, na cama dupla do porteiro, grande cara, mas era um inverno atroz e não havia calefação assim que púnhamos muitas capas de l’Humanité por cima e cada vez que nos virávamos se ouvia o barulho de jornais(o estou ouvindo), eu vivia um grande caos e muitas vezes caminhando pelas margens do Sena pensei em me matar, mas me dava pena, acredite, o pobre Lehrmann, o porteiro alsaciano, que me dava alguns francos para comer um sanduíche daqueles compridos e um café com leite, seria uma sacanagem com o Lehrmann, compreende, assim fui agüentando até que não deu mais e com muitas precauções roubei um dia de Gilbert um tratado de análise matemática de Borel e quando comecei a estudá-lo num café, enquanto lá fora fazia frio e eu tomava um café quente, comecei a pensar 
naqueles que dizem 
que este mercado no qual vivemos 
está formado por uma única substância 
que se transmuta em árvore, criminosos e montanhas, 
tentando copiar em petrificado museu 
de idéias. 
Asseguram 
(antigos viajantes, escrutadores de pirâmides, indivíduos 
que em sonho o entreviram, algum mistagogo) que é uma 
coleção de objetos inamovíveis e estáticos: 
árvores imortais, tigres petrificados 
junto a triângulos e paralelepípedos.. 
E também um homem perfeito, 
Formados com cristais de eternidade, 
ao qual desajeitadamente quer parecer-se 
(o desenho de uma criança) 
um montão de partículas universais 
que antes era sal, água, batráquio, 
fogo e nuvem, 
excrementos de touro e cavalo, 
vísceras putrefatas em campo de batalha. 
De modo que(continuam explicando esse viajantes, 
embora agora com levíssima ironia nos olhos) com essa 
imunda mescla 
de lixo, terra e restos de comida, 
purificando-a com água e Sol, 
cuidando-a carinhosamente 
contra os depreciativos e sarcásticos poderes 
(o raio, o furacão, o mar enfurecido, a lepra) se tenta 
um grosseiro simulacro 
do homem de cristal. 
Mas embora cresça, prospere(vão bem as coisas não?) 
de repente começa a vacilar 
faz esforços desesperados 
e finalmente morre 
como ridícula caricatura, 
voltando a ser barro e excremento de vaca. 
Se não consegue ao menos a dignidade do fogo. 
-Deseja acrescentar algo a essa reportagem, senhor Sábato? Alguma preferência em teatro ou musica? Algo sobre o compromisso do escritor?
-Não, senhor, obrigado. 

Ernesto Sábato, Abadon, O Exterminador 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Pescoço

Assim que levanta os braços,
A prender os cabelos,
Surge ele, intacto.

Percorrendo o nariz,
O delineamento
Entre os cabelos e a orelha,
Surge ele, tangível.

Perdido,
Achado,
Sob o emaranhar dos fios,
Sobre a força das costas.
Uma leve penugem cobre
Sua pele macia.

Convidativo vale
A beijos e mordidas,
Saliva e lágrimas.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Epitáfio

Não me olhem e digam: 
- era tão novo e acabou assim 
                                      [é assim que tudo acaba.
Não pensem: poxa, se não tivesse feito aquilo... talvez...
- o “se” não redime a carne, 
                                      [não a salva dos vermes.
Não declamem louvores a Deus por sobre minha carcaça: 
era sua hora...
                                      [não, não era.
Acima de tudo, não afirmem categoricamente: era um menino tão bom...
                                      [nunca somos.
Pobre morte, cercada pela comédia humana
                                      [ à direita o medo, à esquerda a hipocrisia

quinta-feira, 30 de julho de 2015

O Corvo

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.


É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,


Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.


É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.


Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.

Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.


"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,


Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."


Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,


Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".


Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais


Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,


Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,


Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"


Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,


Libertar-se-á... nunca mais!

de Edgar Allan Poe
tradução de Fernando Pessoa

domingo, 26 de julho de 2015

Solidão na parada de ônibus

Uma rua estranha,
Um banco desconhecido.
Deserto.
O ruído seguido do vento
de um ônibus que não era o seu.
Domingo à noite.
A falta de alguém
a dizer verdades e mentiras.
Encolhido,
um cão velho e rabugento.
E uma longa sensação de iminência
Que nada vai acontecer.

sábado, 25 de julho de 2015

Baile de Máscaras




















A tristeza do Pierot
A lágrima do crocodilo
A fidelidade da Colombina
O gargalhar da hiena
A amizade do Arlequim
O amor do Carnaval
O elogio do invejoso
O lamento da carpideira
A cegueira da justiça
A humildade do vencedor
O reconhecimento do vencido
O abraço do candidato
A simpatia do vendedor
A culpa do governo
A beleza da playboy
O dinheiro da loteria
A fé do condenado
A pena do carrasco
O poder do rei
A bravata do mais forte
A cautela do mais fraco
A democracia do rico
A mais-valia do comunista
O medo do patrão
O sêmen do empregado
A droga do filho
A virgindade da filha
O celibato do padre
O abraço do estuprador
O beijo de Judas
O gozo da prostituta
A morte do indigente

Na sarjeta os ilustres e miseráveis se confundem,
No clube os burgueses quebram regras,
No salão as máscaras valsam sozinhas, já não precisam de corpo, rodopiam e enchem todo o ar de hipocrisia e luxúria.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Preguiça

Da suicida

para os alunos do CFCH–UFPE

Tua paixão me apavora,
Certeza do nada
Trocada numa vida.

Teu olhar não consola,
O vazio, fio da espada,
Rasga a dor sem saída.

Teu corpo cai na aurora,
Outrora, flutuava,
Jaz então esquecida.


quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ah, mar! Ao mar! 

Ah, mar! Ao mar! Ao amar, há mar, amar o mar, mar o amor, ô, mar, amor é o mar e o mar é amar na linha do horizonte.

As sereias amam sua sedução, os capitães amam o ouro que reluz no sangue, os marinheiros, as prostitutas do porto, eu, o amar.

Estar no mar é amar onde não dá pé, é mergulhar e não alcançar o chão. O mar é amar na linha do horizonte. 


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Namikaze Satellite

Quero juntar as núvens que saíram
à força e com a crista das ondas,
Eu voarei além.
Embora o caminho esteja ficando assustado e perigoso,
Eu sigo em frente no sonho que eu desenhei.
O tempo está nos apressando,
Tornando nossas decisões precipitadas,
E mesmo se estamos acordados enquanto sonhamos,
Eu sigo por aquela mesma luz.
Sob esta noite brilhantemente estrelada,
Há centenas de constelações e sombras.
E diante disso tudo o que somos,
Por que me olha tão fixamente?
Snorkel
Tema da 7ª abertura do anime Naruto. Considerando que o original é em japonês, a fidedignidade da letra fica pra próxima.

O teu olhar



Fotos no atelier de Francisco Brennand, Recife.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Linhas.



Linhas.

Linhas do corpo,

Linhas de pensamento,

Linhas que marcam,

Linhas que rasgam,

Linhas entre a vida e a morte,

Transversais que formam cruzes,

Paralelas que se encontram no infinito.

Passaporte



Seguro tuas mãos como a água que cai de uma fonte, para que nada escorra, nem tua essência entre meus dedos.

Deito o olhar demoradamente sobre teu rosto, não posso deixar que nenhum detalhe passe desapercebido.

O roubo, o assassínio, a extorsão, nada disso me levaria ao inferno.

Mas qualquer pequena negligência para contigo não seria perdoada por nenhum dos deuses ou homens.

Não, não, não... não posso parar de te olhar, porque a lembrança de tua face servirá de passaporte para o paraíso.

-Fiz coisas erradas como todos os homens; mas olhe o que vi, a boca que beijei, o sentimento que senti e me diga que não mereço uma vaga ao Vosso lado...

ou consentiria, ou não seria Deus.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Tríade do sabor eterno



Lua. Sobre mim o desejo, a consagração.
Crua. Sem tempo, sem prumo, sem rota, sem mundo.
Nua. Corpo que o dia usurpa. Negros belos cílios.
— Toda tua. Beija-flor azul escuridão.
Paixão. Cegueira dengosa que não partilho.

Sol. Sorrisos à mesa, garfos e facas. Puxo
Conversa. Cachos soltos rendem a visão.
Jatobá floresce mil anos. Nosso filho
É vida, movimento, carinho. É tudo.
Deuses invejam: glória, família e ação.

Olhos fechados. Sua beleza, meu suspiro.
O dia chama lá fora — à luta, ao luto.
Sobre a cama, entre as colchas, meu coração.
Prazer adiado para melhor curti-lo.
Louca, a boca calada me chama. Eu fujo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Perfume difuso





Amor. Como explicar este sentimento controverso? Como resumir o montante de memórias, sonhos, desejos, sensações vividas por dois? O amor é algo que foge às raias de uma definição reta, cientifica, devido à infinitude de possibilidades que representa. Só pode ser visto uno — percebido concreto — no casal de namorados; no homem e na mulher que renunciam o tempo-relógio para degustar o tempo-pulsação.

Quando o perfume invade minhas tardes, a boca arrasta minha pele, a pele desliza entre os dedos. Quando o castanho escuro dos cabelos clareiam a vista, afagam o rosto, avivam nossa história. Quando o corpo desperta no meu a vontade de mergulhar na forma das coxas, dos seios. De entender a parte e o todo.
Com base na experiência que reservei a uma única mulher, ser poesia, construo a rede de significados para entender o amor. Palavra que, antes de conhecê-la, era reservatório de vazio e percepções alheias.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

No limite da eslasticidade



Pensei às vezes que não iria suportar. 
Pesada, mas chegou,  
Qual  borracha no máximo de tensão, 
Corda da viola em último agudo,
Pronta para estourar. 
Foi difícil. 
"Levou todas as minhas forças apenas para ficar de pé."
Pesada, mas chegou. 
Ferro em brasa no dorso cru. 
Precisei ver nos olhos do criador, 
Sentir o hálito frio, 
A fraqueza do espécime. 
Foi difícil.
Deram-me pílulas para esquecer
dormir à noite. 

A inércia em toda sua dor,
Que não tem idade. 
No limite da elasticidade. 

Foi pesada, mas chegou. 



® poema registrado

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Cântico Negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces 
Estendendo-me os braços, e seguros 
De que seria bom que eu os ouvisse 
Quando me dizem: "vem por aqui!" 
Eu olho-os com olhos lassos, 
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) 
E cruzo os braços, 
E nunca vou por ali... 

A minha glória é esta: 
Criar desumanidade! 
Não acompanhar ninguém. 
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade 
Com que rasguei o ventre à minha mãe 

Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"? 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, 
Redemoinhar aos ventos, 
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, 
A ir por aí... 

Se vim ao mundo, foi 
Só para desflorar florestas virgens, 
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! 
O mais que faço não vale nada. 

Como, pois sereis vós 
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem 
Para eu derrubar os meus obstáculos?... 
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, 
E vós amais o que é fácil! 
Eu amo o Longe e a Miragem, 
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... 

Ide! Tendes estradas, 
Tendes jardins, tendes canteiros, 
Tendes pátria, tendes tectos, 
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... 
Eu tenho a minha Loucura ! 
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, 
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... 

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. 
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; 
Mas eu, que nunca principio nem acabo, 
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! 
Ninguém me peça definições! 
Ninguém me diga: "vem por aqui"! 
A minha vida é um vendaval que se soltou. 
É uma onda que se alevantou. 
É um átomo a mais que se animou... 
Não sei por onde vou, 
Não sei para onde vou 
- Sei que não vou por aí! 

José Régio

sexta-feira, 12 de junho de 2015

À minha para sempre namorada

Quando ela me falta, ou parece desinteressar-se de mim, sinto-me furtado numa parte do que sou, carecente, incompleto. Está cega toda uma parte daquilo que me forma. As estrelas podem despencar do céu, as cores desatarem no alto promessas de novas estações - são míopes os olhos meus que assistem a esses fenômenos. Este é o motivo por que vagueio, e apalpo sem reconhecer os objetos que me cercam, como um homem que houvesse perdido a própria sombra.

Crônica de uma casa assassinada
Lúcio Cardoso

Bons poetas cantam seu sentimento, os melhores cantam meu sentimento.

Estrela do Oswaldo Cruz

Uma estrela quebrou
Estilhaço voou
Ferindo o amor em mim

Na Alameda ou jardim
Sorriso era de graça
Doçura a quem sangrava
Pastores ou atrizes

Dessa estrela-lembrança
Guardo alguma esperança
De mais dias felizes



 ® poema registrado

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Espumas Flutuantes

ERA POR UMA dessas tardes em que o azul do céu oriental — é pálido e
saudoso, em que o rumor do vento nas vergas — e monótono e cadente, e o quebro da vaga
na amurada do navio— e queixoso e tétrico.

Das bandas do ocidente o sol se atufava nos mares ''como um brigue em chamas..."
e daquele vasto incêndio do crepúsculo alastrava-se a cabeça loura das ondas.

Além... os cerros de granito dessa formosa terra de Guanabara, vacilantes, a
lutarem com a onda invasora de azul, que descia das alturas... recortavam-se indecisos na
penumbra do horizonte.

Longe, inda mais longe... os cimos fantásticos da serra dos Órgãos embebiam-se
na distância sumiam-se, abismavam-se numa espécie de naufrágio celeste.

Só e triste, encostado à borda do navio, eu seguia com os olhos aquele
esvaecimento indefinido e minha alma apegava-se à forma vacilante das montanhas —
derradeiras atalaias dos meus arraiais da mocidade.

E que lá, dessas terras do sul, para onde eu levara o fogo de todos os entusiasmos,
o viço de todas as ilusões, os meus vinte anos de seiva e de mocidade, as minhas esperanças
de glória e de futuro;. . . é que dessas terras do sul, onde eu penetrara "como o moço Rafael
subindo as escadas do Vaticano";... volvia agora silencioso e alquebrado... trazendo por
única ambição—a esperança de repouso em minha pátria.

Foi então que, em face destas duas tristezas — a noite que descia dos céus,—a
solidão que subia do oceano—, recordei-me de vós, ó meus amigos!

E tive pena de lembrar que em breve nada restaria do peregrino na terra
hospitaleira, onde vagara; nem sequer a lembrança desta alma, que convosco e por vós
vivera e sentira, gemera e cantara. . .

Ó espíritos errantes sobre a terra! Ó velas enfunadas sobre os mares!.. .

Vós bem
sabeis quanto sais efêmeros... — passageiros que vos absorveis no espaço escuro, ou no
escuro esquecimento.

E quando — comediantes do infinito — vos obumbrais nos bastidores do abismo, o
que resta de vós?

— Uma esteira de espumas.. — flores perdidas na vasta indiferença do oceano. —
Um punhado de versos... —espumas flutuantes no dorso fero da vida!...

E o que são na verdade estes meus cantos?...

Como as espumas, que nascem do mar e do céu, da vaga e do vento, eles são filhos
da musa—este sopro do alto: do coração _ este pélago da alma.

E como as espumas são, às vezes, a flora sombria da tempestade, eles por vezes
rebentaram ao estalar fatídico do látego da desgraça
E como também o aljofre dourado das espumas reflete as opalas, rutilantes do
arco-íris, eles por acaso refletiram o prisma fantástico da ventura ou do entusiasmo— estes
signos brilhantes da aliança de Deus com a juventude!

Mas, como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima
saudosa do marujo... possam eles, ó meus amigos!—efêmeros filhos de minh'ahna—levar
uma lembrança de mim às vossas plagas!

Prólogo de Espuma Flutuante, Castro Alves.



segunda-feira, 8 de junho de 2015

O otimista e o pessimista

O pensador Carl Sagan estava exultante por conseguir que um foguete que iria ser lançado ao espaço levasse uma placa com os dizeres: "Viemos em Paz para Toda a Humanidade".  J. G. Ballard escritor pessimista inveterado,  desde que viveu de perto os horrores da segunda guerra, quando soube do feito de Sagan, comentou: "Se eu fosse marciano, começava logo a fugir".

Isso me lembra a história do menino rico que estava triste depois de ganhar uma bike bem equipada e reluzente.  Quando  perguntado a razão de estar cabisbaixo, disse que agora a bicicleta estava nova,  mas que iria envelhecer, enferrujar, pior, poderia lhe  causar um acidente.

Na casa ao lado,  um menino pobre estava radiante com o presente que recebera: uma latinha com estrume. A quem passasse pela rua ele inquiria: "Você viu por aí meu cavalo?"


sexta-feira, 5 de junho de 2015

poesia não muda o mundo imediatamente

A poesia não muda o mundo imediatamente. Mas a leitura de um bom poema sempre modifica algo em nós. Não somos mais os mesmos quando uma palavra bela, exigente e única impõe sua presença, objeto único, à nossa frente.


Luzilá Gonçalves



Mulher lendo.  Monet. 

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Da virtude amesquinhadora

Passo no meio desta gente e guardo os olhos abertos: eles não me perdoam que eu não inveje suas virtudes.
Procuram morder-me, porque lhes digo: “Para gente pequena, são necessárias virtudes pequenas” — e porque custo a compreender que gente pequena seja necessária! (...)
Cortês, sou eu com elas, bem como paciente com todos os pequenos aborrecimentos: espinhar-se com o que é pequeno parece-me sabedoria de ouriço. (...)
E entre eles também aprendi isto: porta-se o louvador como se retribuísse algo, mas, na verdade, quer receber mais presentes! (...)
Passo no meio desta gente e guardo os olhos abertos: tornaram-se mais pequenos, cada vez mais pequenos: mas isso se deve à sua doutrina da felicidade e da virtude.
É que são modestos também na virtude — pois querem o bem-estar. Mas somente uma virtude modesta condiz com o bem-estar. (...)
“Eu sirvo, tu serves, ele serve” — assim reza, aqui também, a hipocresia dos dominantes — e ai, quando o primeiro senhor é somente o primeiro servidor! (...)
“Colocamos a nossa cadeira no meio”, diz-me o seu sorrizinho de contentamento, “e tão longe dos gladiadores morrentes quanto dos porcos satisfeitos.”
Isto, porém, é mediocridade — muito embora se chame moderação.


Nietzsche em Assim Falou Zaratustra

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Mensageiro

E se pessoas fossem anjos, 
anjos sem asas, 
anjos sem Deus e sem pecados? 

Privados do voo de Ícaro, 
buscassem eternamente, 
de todas as formas, 
a liberdade, 
o desprendimento 
dos solos e dos sólidos, 
dos meios e dos fins? 

E se a única maneira 
de aplacar essa angústia 
fosse, de bom grado, 
vendar os olhos, 
amarrar as mãos às costas, 
trancafiar-se em um calabouço, 
em outro anjo: 

O amor.



sexta-feira, 29 de maio de 2015

Poesia e Loucura

Dom Quixote é a primeira das obras modernas, pois que aí se vê a razão cruel das identidades e das diferenças desdenhar infinitamente dos signos e das similitudes: pois que aí a linguagem rompe seu velho parentesco com as coisas, para entrar nessa soberania solitária donde só reaparecerá, em seu ser absoluto, tornada literatura; pois que aí a semelhança entra numa idade que é, para ela, a da desrazão e da imaginação. Uma vez desligados a similitude e os signos, duas experiências podem se constituir e duas personagens aparecer face a face. O louco, entendido não como doente, mas como desvio constituído e mantido, como função cultural indispensável, tornou-se, na experiência ocidental, o homem das semelhanças selvagens. Essa personagem, tal como é bosquejada nos romances ou no teatro da época barroca e tal como se institucionalizou pouco a pouco até a psiquiatria do século XIX, é aquela que se alienou na analogia. É o jogador desregrado do Mesmo e do Outro. Toma as coisas pelo que não são e as pessoas umas pelas outras; ignora seus amigos, reconhece os estranhos; crê desmascarar e impõe uma máscara. Inverte todos os valores e todas as proporções, porque acredita, a cada instante, decifrar signos: para ela, os ouropeus fazem um rei. Segundo a percepção cultural que se teve do louco até o fim do século XVIII, ele só é o Diferente na medida em que não conhece a Diferença; por toda a parte vê semelhanças e sinais da semelhança; todos os signos para ele se assemelham e todas as semelhanças valem como signos. Na outra extremidade do espaço cultural, mas totalmente próximo por sua simetria, o poeta é aquele que, por sob as diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentescos subterrâneos das coisas, suas similitudes dispersadas. Sob os signos estabelecidos e apesar deles, ouve um outro discurso, mais profundo, que lembra o tempo em que as palavras cintilavam na semelhança universal das coisas: a Soberania do Mesmo, tão difícil de enunciar, apaga na sua linhagem a distinção dos signos.


Trecho do livro As Palavras e as Coisas, de Michel Foucault


quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Papoula e o Bebê

A cor (a)trai
os olhos
vermelho provocador

no veludo
o toque
destrói pétalas

o bebê
tem a flor
na mão (e ri)

nariz de pinóquio
não descobriu
espinhos ainda.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Deus certamente deve ter escrito numa nota de rodapé

Deus certamente deve ter escrito numa nota de rodapé, nalguma página do manual de criação do mundo, qualquer coisa do tipo: aquele que nascer e em seu bojo trouxer o desejo do entendimento feminino aprenderá diversas coisas, e ainda assim morrerá frustrado.

sábado, 23 de maio de 2015

Um homem precisa se queimar em suas próprias chamas pra poder renascer das cinzas.

Friedrich Nietzsche



sexta-feira, 22 de maio de 2015

About

Essa poesia abstrata é de concreto,
cheira a asfalto e tem cor de mentira.
Se o preço da gasolina forra o piso
                                 [da felicidade,
meus rascunhos perdem sentido.
              [E isso tudo é maravilhoso.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

VERDADE



A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.


Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dúvida

A vida fosse um cálice de vinho,
Que nós tomássemos ao bel prazer,
Beberíamos dia a dia um pouquinho,
Para nunca faltar o que sorver.

Toda rosa em si traz um espinho,
Ao que não nos é dado o escolher.
Mas sou eu quem recomenda o caminho
Que vai, no jardim, o pé percorrer.

Sendo-nos dado marcar com a morte,
Teríamos assim a melhor sorte?
Ou, enlouqueceríamos enfim?

Sai de mim, curiosidade grande,
Prefiro mesmo seguir ignorante,
Cego (surdo!), começo, meio e fim.



tela Incredulidade de São Tomé, de Caravaggio
Mesmo que façam todo dia  movimento idêntico repetidas vezes, a máquina repete, o homem insiste.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Human

I did my best to notice
When the call came down the line
Up to the platform of surrender
I was brought but i was kind
And sometimes i get nervous
When i see an open door
Close your eyes
Clear your heart

Cut the cord
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human?
Or are we dancer?

Pay my respects to grace and virtue
Send my condolences to good
Give my regards to soul and romance
They always did the best they could
And so long to devotion
You taught me everything i know
Wave goodbye
Wish me well

You got to let me go
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human?
Or are we dancer?

Will your system be alright
When you dream of home tonight?
There is no message we're receiving
Let me know is your heart still beating

Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer

You've got to let me know
Are we human?
Or are we dancer?
My sign is vital
My hands are cold
And I'm on my knees
Looking for the answer
Are we human
Or are we dancer?

Are we human?
Or are we dancer?

Are we human
Or are we dancer?
Eu fiz o meu melhor para perceber
quando o chamado veio
Na plataforma de entrega
Fui levado mas fui gentil
E às vezes eu fico nervoso
Quando eu vejo uma porta aberta
Feche os olhos
Limpe seu coração

Corte o cordão
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?
Meu sinal é vital
Minhas mãos estão geladas
Eu estou de joelhos
Esperando a resposta
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?

Apresente meu respeito para graça e virtude
Envie minhas condolências para o bem
Dê meus cumprimentos a alma e romance
Eles sempre fizeram o melhor que podiam
E adeus à devoção
Me ensinou tudo que sei
Acene adeus,
Deseje-me sorte

Você tem que me deixar ir
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?
Meu sinal é vital
Minhas mãos estão geladas
E estou de joelhos
Procurando a resposta
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?

Seu sistema ficará bem
Quando sonhar com o lar hoje a noite
Não há mensagem que estamos recebendo
Deixe-me saber, seu coração ainda bate?

Somos humanos?
Ou somos dançarinos?
Meu sinal é vital
Minhas mãos estão geladas
E estou de joelhos
Procurando a resposta

Você tem que me deixar saber
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?
Meu sinal é vital
Minhas mãos estão geladas
E estou de joelhos
Procurando a resposta
Somos humanos?
Ou somos dançarinos?

Somos humanos?
Ou somos dançarinos?

Somos humanos?
Ou somos dançarinos?


 The Killers