verso, prosa e frases soltas, gritos na noite, pulso que pulsa, meia-verdade, meia-justiça e um grilo falante

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Domingueira

Domingo. Final da tarde. Da varanda observo a cidade que se derrama lá fora. Na rede, balançam eu e meu tédio. Por ser mais pesado, ele vai embaixo, comigo no colo. Até as árvores se movem lentamente. Vejo um dedo de mar rodeado por prédios de todos os lados. É uma cidade fantasma ou a preguiça fez outras vítimas? Cada balançar na rede a penumbra avança. Tomo coragem, levanto a cabeça e verifico a situação na janela da área de serviço - fundos do apartamento. Praquelas bandas o dia insiste ao fundo do horizonte, borrando de amarelo escuro as pontas das casas, tornando pro marrom, com a noite pintada de azul escuro que invade por cima. Umas luzes ao acenderem denunciam existência de vida pré-segunda-feira. Dou-me conta, de repente, por que os poetas e os apaixonados se encantam com o crepúsculo. A esta hora, nossos olhos acariciam o tempo. O Senhor, sempre faceiro e fugidio, revela um instante o instante. Para celebrar o momento conosco, a rede, o tédio e eu, eis que surge uma lua que mal cabe na varanda.


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