Como
aves da mata, sim: selvagem.
Como
a vida suspensa sob a lança.
Como
os raios, a chuva e como o vento
batendo
contra os álamos na sombra.
Contra
os muros e grades, sim: selvagem.
Contra
os falsos brasões da tolerância.
Selvagem
como o eterno movimento
do
mar em seu assomo de esperança.
Selvagem.
Solidão que irradia
no
desprezo das cômodas estâncias.
Selvagem.
Como humano cata-vento
movido
em primitivas reentrâncias.
Selvagem.
Como a intérmina coragem
numa
luta impossível como gigantes.
Selvagem
como o amor solto no ventre
como
o fuso que fere mas descansa.
Sim:
selvagem. Por isso tão liberta
tendo
auroras e guizos nas entranhas.
Sim:
selvagem. Por isso tão estranha
aos
olhos represados pelo tanque.
Lucila
Nogueira, Almenara, 1979
Nascida
no Rio de Janeiro em 30/03/1950, filha de pai português e mãe pernambucana.
Falecida em 25/12/2016. Uma poetisa consagrada sem raízes, no exílio de si.