sábado, 19 de agosto de 2017

umas gotas

A chuva e sua magia de deixar homens absortos, abrigados nalgum lugar, mirando incontáveis quilômetros adiante, mesmo que só vejam paredes e calçadas molhadas. Se ela cai na espera do último ônibus, que tarda e falha; turva, a luz dos postes, refletida no asfalto, se contorce em espelho d'água. Centenas de formiginhas nadam desesperadas, formando circulozinhos, círculos e circulozões que brigam uns com os outros. Coisa nostálgica isso de chover. As gotas forçam a lembrança de outras gotas antigas, suas parentes, e com elas vêm todo o nosso passado, pingando na memória imagens, sons e cheiros de outras chuvas, outras gotas mais minhas, mais salgadas. A brisa e o vento forte vêm impregnados de humanidade, soprando no rosto os lugares por onde têm passado, de tão úmidos, num respirar mais forte, regam por dentro, lavando a alma, levando-a a outros.

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