Ferreira Gullar, amigo de Clarice Lispector, quando soube de sua morte (1977):
Na vertigem do dia
Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós
verso, prosa e frases soltas, gritos na noite, pulso que pulsa, meia-verdade, meia-justiça e um grilo falante
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
sábado, 3 de dezembro de 2016
Eu existo
Eu existo.
O nome fora da Placa.
Rosto que não tará nas fotos.
Desgarrei do rebanho.
Morri. Nasci. Remorri. Renasci.
Retornei.
E digo: Eu existo!
Só que já vou indo...
- Até logo, ou até quando
eu não existo.
sábado, 26 de novembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
sábado, 19 de novembro de 2016
Hilel, o Ancião, 60 a.C.
"Se eu não sou por mim mesmo, que será de mim? E quando eu sou somente para mim, quem sou eu? E se não for agora, quando?"
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Estrela da Manhã
Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã ?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois pecai comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma
ternura tão simples
que tu desfalecerás
Procurem por toda a parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
Manuel Bandeira
Onde está a estrela da manhã ?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda a parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e os troianos
Com o padre e o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Depois pecai comigo
Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma
ternura tão simples
que tu desfalecerás
Procurem por toda a parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã.
Manuel Bandeira
terça-feira, 8 de novembro de 2016
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
Será
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?
Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação?
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão
Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração
Brigar pra quê
Se é sem querer
Quem é que vai nos proteger?
Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?
...
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
ULISSES
O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade.
E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.
Fernando Pessoa
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade.
E a fecundá-la decorre.
Embaixo, a vida, metade
De nada, morre.
Fernando Pessoa
sábado, 29 de outubro de 2016
No preto e no branco
No preto e no branco
Do escuro do quarto,
Dorme calmo o rosto
Belo. Salvo aqui
De luz e paixões.
É branco no preto
Do escuro do quarto.
O rosto respira
Mesmo ar que eu.
Inspiração dela,
Inspiração minha.
É preto no branco
Do escuro do quarto.
As feições são poucas.
Reverso do espelho.
Mais miro o que foi
E em mim permanece —
Qual vida de cego.
Em algumas cores
Do abajur acesso,
Me vem a saudade
De segundos antes
Quando a vi sorrir.
Acaricio o sono,
A pele e o amor.
Dourados.
Do escuro do quarto,
Dorme calmo o rosto
Belo. Salvo aqui
De luz e paixões.
É branco no preto
Do escuro do quarto.
O rosto respira
Mesmo ar que eu.
Inspiração dela,
Inspiração minha.
É preto no branco
Do escuro do quarto.
As feições são poucas.
Reverso do espelho.
Mais miro o que foi
E em mim permanece —
Qual vida de cego.
Em algumas cores
Do abajur acesso,
Me vem a saudade
De segundos antes
Quando a vi sorrir.
Acaricio o sono,
A pele e o amor.
Dourados.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
- Estás satisfeito com o que escreveu?
REPORTAGEM
-Estás satisfeito com o que escreveu?
-Não sou tão canalha.
-Quem é Ernesto Sábato?
-Meus livros têm sido uma tentativa de responder a essa pergunta. Eu não quero obrigar-te a lê-los, mas se quiseres conhecer a resposta terá de fazê-lo.
-Pode adiantar-nos o que está escrevendo neste momento?
-Uma novela.
-Já tem o título?
-Geralmente o conheço ao final, quando acabei de escrever o livro. No momento tenho dúvidas. Pode ser O anjo das Trevas. Mas talvez Abadon, o Exterminador.
-Um pouco sombrios, não?
-Sim.
-Gostaria que me respondesse algumas perguntas: que pensas do boom latino-americano? Achas que o escritor deve estar comprometido? Que conselhos daria ao escritor que começa? Preferes dias de Sol ou nublados? Identificaste com teus personagens? Escreves tuas próprias experiências ou inventas? Que pensas de Borges? O artista deve ter uma liberdade total? São produtivo os congressos de escritores? Como definirias teu estilo? Que pensas da vanguarda?
-Vejas, meu caro, deixemos de bobagens e de uma vez por todas digamos a verdade. Quero dizer, falemos de catedrais e de prostíbulos, de esperanças e de campos de concentração. Eu, pelo menos, não estou para piadas,
porque vou morrer.
Quem for imortal que se permita o luxo
de continuar dizendo besteiras.
Eu não: tenho os dias contados(mas que homem, meu
caro jornalista, não os têm contado, diga-me, com a
mão sobre o coração)
e quero fazer um balanço
para ver o que sobra de tudo isso
(mandrágonas ou escritores)
e se é certo que os deuses têm mais valor
que os vermes
que em seguida hão de engordar com meus despojos.
Eu não sei, não sei nada(para que enganá-lo),
não sou tão arrogante nem tão besta
para proclamar a superioridade dos vermes.
(Que isso fique para os ateus de bairro)
Te confesso que o argumento me impressiona
pois o caixão
o carro fúnebre
e esse grotescos implementos da morte
são visíveis testemunhos de nossa precariedade,
Mas quem sabe, quem sabe, senhor jornalista!
Poderia ser que os deuses não condescendessem
rebaixar-se tanto,
não acedessem a baixa demagogia
de se fazer grosseiramente compreensíveis,
e nos esperassem com sinistros espetáculos,
logo que o último discurso fosse pronunciado
e nosso solitário corpo
para sempre abandonado a si mesmo
(mas, anote, abandonado de verdade, não com esses
imperfeitos, anelantes e em definitivo inúteis abandonos
que a vida nos proporciona) aguarde o ataque inumerável
dos vermes.
Falemos, pois, sem medo
mas também sem pretensões
singelamente
com certo sentido de humor
que dissimule o lógico patetismo do assunto.
Falemos de tudo um pouco.
Quero dizer:
desses problemáticos deuses
dos evidentes vermes
dos cambiantes rostos dos homens.
Não sei lá muita coisa destes curiosos problemas
mas o que sei o sei de verdade
pois são experiências minhas
e não histórias lidas em livros
e posso falar do amor ou do medo
como um santo de seus êxtases
ou um mágico de teatro( em um reunião caseira,
entre gente de confiança)
de seus truques.
Não esperem outra coisa
não me critique assim tão rápido, não sejam
perversos, caramba.
Nem mesquinhos.
Lhes advirto: sejam mais modestos
pois também vocês estão destinados(e patatipatatá)
a alimentar os vermes antes mencionados.
De modo que, com exceção dos loucos e dos invisíveis
deuses (talvez inexistentes)
todos os demais farão bem em escutar-me senão com
respeito pelo menos com condescendência.
-Muitos leitores se perguntam, senhor Sábato, como é possível que o senhor se tenha dedicado às ciências físico-matemáticas.
-Pois nada mais fácil de explicar. Creio já ter-te contado que Fugi do movimento stalinista em 1935, em Bruxelas, sem dinheiro, sem documentos. Guillermo Etchebehere me deu alguma ajuda, ele era trotskista, e durante algum tempo pude dormir no sótão da École Normale Supérieure, rue d’Ulm. Me lembro como se fosse hoje. Uma casa grande, mas naquele tempo não havia calefação, eu entrava pela janela às dez da noite e me deitava ali, na cama dupla do porteiro, grande cara, mas era um inverno atroz e não havia calefação assim que púnhamos muitas capas de l’Humanité por cima e cada vez que nos virávamos se ouvia o barulho de jornais(o estou ouvindo), eu vivia um grande caos e muitas vezes caminhando pelas margens do Sena pensei em me matar, mas me dava pena, acredite, o pobre Lehrmann, o porteiro alsaciano, que me dava alguns francos para comer um sanduíche daqueles compridos e um café com leite, seria uma sacanagem com o Lehrmann, compreende, assim fui agüentando até que não deu mais e com muitas precauções roubei um dia de Gilbert um tratado de análise matemática de Borel e quando comecei a estudá-lo num café, enquanto lá fora fazia frio e eu tomava um café quente, comecei a pensar
naqueles que dizem
que este mercado no qual vivemos
está formado por uma única substância
que se transmuta em árvore, criminosos e montanhas,
tentando copiar em petrificado museu
de idéias.
Asseguram
(antigos viajantes, escrutadores de pirâmides, indivíduos
que em sonho o entreviram, algum mistagogo) que é uma
coleção de objetos inamovíveis e estáticos:
árvores imortais, tigres petrificados
junto a triângulos e paralelepípedos..
E também um homem perfeito,
Formados com cristais de eternidade,
ao qual desajeitadamente quer parecer-se
(o desenho de uma criança)
um montão de partículas universais
que antes era sal, água, batráquio,
fogo e nuvem,
excrementos de touro e cavalo,
vísceras putrefatas em campo de batalha.
De modo que(continuam explicando esse viajantes,
embora agora com levíssima ironia nos olhos) com essa
imunda mescla
de lixo, terra e restos de comida,
purificando-a com água e Sol,
cuidando-a carinhosamente
contra os depreciativos e sarcásticos poderes
(o raio, o furacão, o mar enfurecido, a lepra) se tenta
um grosseiro simulacro
do homem de cristal.
Mas embora cresça, prospere(vão bem as coisas não?)
de repente começa a vacilar
faz esforços desesperados
e finalmente morre
como ridícula caricatura,
voltando a ser barro e excremento de vaca.
Se não consegue ao menos a dignidade do fogo.
-Deseja acrescentar algo a essa reportagem, senhor Sábato? Alguma preferência em teatro ou musica? Algo sobre o compromisso do escritor?
-Não, senhor, obrigado.
Ernesto Sábato, Abadon, O Exterminador
-Estás satisfeito com o que escreveu?
-Não sou tão canalha.
-Quem é Ernesto Sábato?
-Meus livros têm sido uma tentativa de responder a essa pergunta. Eu não quero obrigar-te a lê-los, mas se quiseres conhecer a resposta terá de fazê-lo.
-Pode adiantar-nos o que está escrevendo neste momento?
-Uma novela.
-Já tem o título?
-Geralmente o conheço ao final, quando acabei de escrever o livro. No momento tenho dúvidas. Pode ser O anjo das Trevas. Mas talvez Abadon, o Exterminador.
-Um pouco sombrios, não?
-Sim.
-Gostaria que me respondesse algumas perguntas: que pensas do boom latino-americano? Achas que o escritor deve estar comprometido? Que conselhos daria ao escritor que começa? Preferes dias de Sol ou nublados? Identificaste com teus personagens? Escreves tuas próprias experiências ou inventas? Que pensas de Borges? O artista deve ter uma liberdade total? São produtivo os congressos de escritores? Como definirias teu estilo? Que pensas da vanguarda?
-Vejas, meu caro, deixemos de bobagens e de uma vez por todas digamos a verdade. Quero dizer, falemos de catedrais e de prostíbulos, de esperanças e de campos de concentração. Eu, pelo menos, não estou para piadas,
porque vou morrer.
Quem for imortal que se permita o luxo
de continuar dizendo besteiras.
Eu não: tenho os dias contados(mas que homem, meu
caro jornalista, não os têm contado, diga-me, com a
mão sobre o coração)
e quero fazer um balanço
para ver o que sobra de tudo isso
(mandrágonas ou escritores)
e se é certo que os deuses têm mais valor
que os vermes
que em seguida hão de engordar com meus despojos.
Eu não sei, não sei nada(para que enganá-lo),
não sou tão arrogante nem tão besta
para proclamar a superioridade dos vermes.
(Que isso fique para os ateus de bairro)
Te confesso que o argumento me impressiona
pois o caixão
o carro fúnebre
e esse grotescos implementos da morte
são visíveis testemunhos de nossa precariedade,
Mas quem sabe, quem sabe, senhor jornalista!
Poderia ser que os deuses não condescendessem
rebaixar-se tanto,
não acedessem a baixa demagogia
de se fazer grosseiramente compreensíveis,
e nos esperassem com sinistros espetáculos,
logo que o último discurso fosse pronunciado
e nosso solitário corpo
para sempre abandonado a si mesmo
(mas, anote, abandonado de verdade, não com esses
imperfeitos, anelantes e em definitivo inúteis abandonos
que a vida nos proporciona) aguarde o ataque inumerável
dos vermes.
Falemos, pois, sem medo
mas também sem pretensões
singelamente
com certo sentido de humor
que dissimule o lógico patetismo do assunto.
Falemos de tudo um pouco.
Quero dizer:
desses problemáticos deuses
dos evidentes vermes
dos cambiantes rostos dos homens.
Não sei lá muita coisa destes curiosos problemas
mas o que sei o sei de verdade
pois são experiências minhas
e não histórias lidas em livros
e posso falar do amor ou do medo
como um santo de seus êxtases
ou um mágico de teatro( em um reunião caseira,
entre gente de confiança)
de seus truques.
Não esperem outra coisa
não me critique assim tão rápido, não sejam
perversos, caramba.
Nem mesquinhos.
Lhes advirto: sejam mais modestos
pois também vocês estão destinados(e patatipatatá)
a alimentar os vermes antes mencionados.
De modo que, com exceção dos loucos e dos invisíveis
deuses (talvez inexistentes)
todos os demais farão bem em escutar-me senão com
respeito pelo menos com condescendência.
-Muitos leitores se perguntam, senhor Sábato, como é possível que o senhor se tenha dedicado às ciências físico-matemáticas.
-Pois nada mais fácil de explicar. Creio já ter-te contado que Fugi do movimento stalinista em 1935, em Bruxelas, sem dinheiro, sem documentos. Guillermo Etchebehere me deu alguma ajuda, ele era trotskista, e durante algum tempo pude dormir no sótão da École Normale Supérieure, rue d’Ulm. Me lembro como se fosse hoje. Uma casa grande, mas naquele tempo não havia calefação, eu entrava pela janela às dez da noite e me deitava ali, na cama dupla do porteiro, grande cara, mas era um inverno atroz e não havia calefação assim que púnhamos muitas capas de l’Humanité por cima e cada vez que nos virávamos se ouvia o barulho de jornais(o estou ouvindo), eu vivia um grande caos e muitas vezes caminhando pelas margens do Sena pensei em me matar, mas me dava pena, acredite, o pobre Lehrmann, o porteiro alsaciano, que me dava alguns francos para comer um sanduíche daqueles compridos e um café com leite, seria uma sacanagem com o Lehrmann, compreende, assim fui agüentando até que não deu mais e com muitas precauções roubei um dia de Gilbert um tratado de análise matemática de Borel e quando comecei a estudá-lo num café, enquanto lá fora fazia frio e eu tomava um café quente, comecei a pensar
naqueles que dizem
que este mercado no qual vivemos
está formado por uma única substância
que se transmuta em árvore, criminosos e montanhas,
tentando copiar em petrificado museu
de idéias.
Asseguram
(antigos viajantes, escrutadores de pirâmides, indivíduos
que em sonho o entreviram, algum mistagogo) que é uma
coleção de objetos inamovíveis e estáticos:
árvores imortais, tigres petrificados
junto a triângulos e paralelepípedos..
E também um homem perfeito,
Formados com cristais de eternidade,
ao qual desajeitadamente quer parecer-se
(o desenho de uma criança)
um montão de partículas universais
que antes era sal, água, batráquio,
fogo e nuvem,
excrementos de touro e cavalo,
vísceras putrefatas em campo de batalha.
De modo que(continuam explicando esse viajantes,
embora agora com levíssima ironia nos olhos) com essa
imunda mescla
de lixo, terra e restos de comida,
purificando-a com água e Sol,
cuidando-a carinhosamente
contra os depreciativos e sarcásticos poderes
(o raio, o furacão, o mar enfurecido, a lepra) se tenta
um grosseiro simulacro
do homem de cristal.
Mas embora cresça, prospere(vão bem as coisas não?)
de repente começa a vacilar
faz esforços desesperados
e finalmente morre
como ridícula caricatura,
voltando a ser barro e excremento de vaca.
Se não consegue ao menos a dignidade do fogo.
-Deseja acrescentar algo a essa reportagem, senhor Sábato? Alguma preferência em teatro ou musica? Algo sobre o compromisso do escritor?
-Não, senhor, obrigado.
Ernesto Sábato, Abadon, O Exterminador
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Pescoço
Assim que levanta os braços,
A prender os cabelos,
Surge ele, intacto.
Percorrendo o nariz,
O delineamento
Entre os cabelos e a orelha,
Surge ele, tangível.
Perdido,
Achado,
Sob o emaranhar dos fios,
Sobre a força das costas.
Uma leve penugem cobre
Sua pele macia.
Convidativo vale
A beijos e mordidas,
Saliva e lágrimas.
A prender os cabelos,
Surge ele, intacto.
Percorrendo o nariz,
O delineamento
Entre os cabelos e a orelha,
Surge ele, tangível.
Perdido,
Achado,
Sob o emaranhar dos fios,
Sobre a força das costas.
Uma leve penugem cobre
Sua pele macia.
Convidativo vale
A beijos e mordidas,
Saliva e lágrimas.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
Epitáfio
Não me olhem e digam:
- era tão novo e acabou assim
[é assim que tudo acaba.
Não pensem: poxa, se não tivesse feito aquilo... talvez...
Não pensem: poxa, se não tivesse feito aquilo... talvez...
- o “se” não redime a carne,
[não a salva dos vermes.
Não declamem louvores a Deus por sobre minha carcaça:
Não declamem louvores a Deus por sobre minha carcaça:
era sua hora...
[não, não era.
Acima de tudo, não afirmem categoricamente: era um menino tão bom...
Acima de tudo, não afirmem categoricamente: era um menino tão bom...
[nunca somos.
Pobre morte, cercada pela comédia humana
Pobre morte, cercada pela comédia humana
[ à direita o medo, à esquerda a hipocrisia
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