verso, prosa e frases soltas, gritos na noite, pulso que pulsa, meia-verdade, meia-justiça e um grilo falante

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Namikaze Satellite

Quero juntar as núvens que saíram
à força e com a crista das ondas,
Eu voarei além.
Embora o caminho esteja ficando assustado e perigoso,
Eu sigo em frente no sonho que eu desenhei.
O tempo está nos apressando,
Tornando nossas decisões precipitadas,
E mesmo se estamos acordados enquanto sonhamos,
Eu sigo por aquela mesma luz.
Sob esta noite brilhantemente estrelada,
Há centenas de constelações e sombras.
E diante disso tudo o que somos,
Por que me olha tão fixamente?
Snorkel
Tema da 7ª abertura do anime Naruto. Considerando que o original é em japonês, a fidedignidade da letra fica pra próxima.

O teu olhar



Fotos no atelier de Francisco Brennand, Recife.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Linhas.



Linhas.

Linhas do corpo,

Linhas de pensamento,

Linhas que marcam,

Linhas que rasgam,

Linhas entre a vida e a morte,

Transversais que formam cruzes,

Paralelas que se encontram no infinito.

Passaporte



Seguro tuas mãos como a água que cai de uma fonte, para que nada escorra, nem tua essência entre meus dedos.

Deito o olhar demoradamente sobre teu rosto, não posso deixar que nenhum detalhe passe desapercebido.

O roubo, o assassínio, a extorsão, nada disso me levaria ao inferno.

Mas qualquer pequena negligência para contigo não seria perdoada por nenhum dos deuses ou homens.

Não, não, não... não posso parar de te olhar, porque a lembrança de tua face servirá de passaporte para o paraíso.

-Fiz coisas erradas como todos os homens; mas olhe o que vi, a boca que beijei, o sentimento que senti e me diga que não mereço uma vaga ao Vosso lado...

ou consentiria, ou não seria Deus.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Tríade do sabor eterno



Lua. Sobre mim o desejo, a consagração.
Crua. Sem tempo, sem prumo, sem rota, sem mundo.
Nua. Corpo que o dia usurpa. Negros belos cílios.
— Toda tua. Beija-flor azul escuridão.
Paixão. Cegueira dengosa que não partilho.

Sol. Sorrisos à mesa, garfos e facas. Puxo
Conversa. Cachos soltos rendem a visão.
Jatobá floresce mil anos. Nosso filho
É vida, movimento, carinho. É tudo.
Deuses invejam: glória, família e ação.

Olhos fechados. Sua beleza, meu suspiro.
O dia chama lá fora — à luta, ao luto.
Sobre a cama, entre as colchas, meu coração.
Prazer adiado para melhor curti-lo.
Louca, a boca calada me chama. Eu fujo.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Perfume difuso





Amor. Como explicar este sentimento controverso? Como resumir o montante de memórias, sonhos, desejos, sensações vividas por dois? O amor é algo que foge às raias de uma definição reta, cientifica, devido à infinitude de possibilidades que representa. Só pode ser visto uno — percebido concreto — no casal de namorados; no homem e na mulher que renunciam o tempo-relógio para degustar o tempo-pulsação.

Quando o perfume invade minhas tardes, a boca arrasta minha pele, a pele desliza entre os dedos. Quando o castanho escuro dos cabelos clareiam a vista, afagam o rosto, avivam nossa história. Quando o corpo desperta no meu a vontade de mergulhar na forma das coxas, dos seios. De entender a parte e o todo.
Com base na experiência que reservei a uma única mulher, ser poesia, construo a rede de significados para entender o amor. Palavra que, antes de conhecê-la, era reservatório de vazio e percepções alheias.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

No limite da eslasticidade



Pensei às vezes que não iria suportar. 
Pesada, mas chegou,  
Qual  borracha no máximo de tensão, 
Corda da viola em último agudo,
Pronta para estourar. 
Foi difícil. 
"Levou todas as minhas forças apenas para ficar de pé."
Pesada, mas chegou. 
Ferro em brasa no dorso cru. 
Precisei ver nos olhos do criador, 
Sentir o hálito frio, 
A fraqueza do espécime. 
Foi difícil.
Deram-me pílulas para esquecer
dormir à noite. 

A inércia em toda sua dor,
Que não tem idade. 
No limite da elasticidade. 

Foi pesada, mas chegou. 



® poema registrado

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Cântico Negro


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces 
Estendendo-me os braços, e seguros 
De que seria bom que eu os ouvisse 
Quando me dizem: "vem por aqui!" 
Eu olho-os com olhos lassos, 
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços) 
E cruzo os braços, 
E nunca vou por ali... 

A minha glória é esta: 
Criar desumanidade! 
Não acompanhar ninguém. 
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade 
Com que rasguei o ventre à minha mãe 

Não, não vou por aí! Só vou por onde 
Me levam meus próprios passos... 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde 
Por que me repetis: "vem por aqui!"? 

Prefiro escorregar nos becos lamacentos, 
Redemoinhar aos ventos, 
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, 
A ir por aí... 

Se vim ao mundo, foi 
Só para desflorar florestas virgens, 
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! 
O mais que faço não vale nada. 

Como, pois sereis vós 
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem 
Para eu derrubar os meus obstáculos?... 
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, 
E vós amais o que é fácil! 
Eu amo o Longe e a Miragem, 
Amo os abismos, as torrentes, os desertos... 

Ide! Tendes estradas, 
Tendes jardins, tendes canteiros, 
Tendes pátria, tendes tectos, 
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... 
Eu tenho a minha Loucura ! 
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, 
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... 

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém. 
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; 
Mas eu, que nunca principio nem acabo, 
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo. 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! 
Ninguém me peça definições! 
Ninguém me diga: "vem por aqui"! 
A minha vida é um vendaval que se soltou. 
É uma onda que se alevantou. 
É um átomo a mais que se animou... 
Não sei por onde vou, 
Não sei para onde vou 
- Sei que não vou por aí! 

José Régio

sexta-feira, 12 de junho de 2015

À minha para sempre namorada

Quando ela me falta, ou parece desinteressar-se de mim, sinto-me furtado numa parte do que sou, carecente, incompleto. Está cega toda uma parte daquilo que me forma. As estrelas podem despencar do céu, as cores desatarem no alto promessas de novas estações - são míopes os olhos meus que assistem a esses fenômenos. Este é o motivo por que vagueio, e apalpo sem reconhecer os objetos que me cercam, como um homem que houvesse perdido a própria sombra.

Crônica de uma casa assassinada
Lúcio Cardoso

Bons poetas cantam seu sentimento, os melhores cantam meu sentimento.